segunda-feira, 18 de junho de 2012

Matéria especial - Parte 4

Evolução do MMA

O verdadeiro “pulo do gato” para o MMA ocorreu em 2000, quando o ex-lutador de boxe, e empresário Dana White passou a se interessar pelo UFC.


No início dos anos 2000, o Pride era de longe o maior evento de MMA do planeta, sendo transmitido para mais de 40 países, inclusive o Brasil, e o UFC nada mais era que um evento de segunda classe, que sofria severas críticas e sanções para a realização de seus eventos, tendo que se contentar em viver das vendas de pay-per-view, que além de se tornarem cada vez mais escassas, também passaram a sofrer boicote das TVs a cabo. Eventos sem licença esportiva, caso do UFC na maioria dos estados em que era realizado, eram vistos como ilegais, o que, se no começo dava um ar de novidade para o evento, agora tirava toda a credibilidade de sua realização.

Da esquerda pra direita: Frank Fertitta, Dana White
e Lorenzo Fertitta


Dana White convenceu dois amigos de infância a investirem no evento, enxergando nele uma maneira de conseguir fazer muito dinheiro. Estes dois amigos, os irmãos Lorenzo e Frank Fertitta, possuíam duas coisas fundamentais para a ignição de uma nova era no UFC, dinheiro e influência. Os irmãos eram donos de uma conhecida rede de hotéis e cassinos em Las Vegas, estado de Nevada, além de o mais velho, Frank, ter sido membro da comissão atlética de Nevada, o que facilitaria, e muito, a realização do evento na capital mundial da diversão.

 Dana White, juntamente com os irmãos Fertitta criaram a Zuffa, empresa de entretenimento que comprou o UFC de Bob Meyrowitz, principal acionista da época. E sob nova direção, o UFC, em sua edição de número 30, já instituiu novas regras, que serviriam não apenas para conseguir as licenças da comissão atlética, como também para apagar a imagem deixada pelos eventos anteriores, onde o jargão era “não existem regras”. Gradativamente, o evento foi sendo liberado para os estados americanos, e o público passou a aceitar mais uma vez o MMA, a exemplo do que já ocorria no Japão. 


Lutadores de renome retornaram ao UFC, pois este já gerava gordas bolsas nas lutas e participação na venda de pay-per-view. A Zuffa começou então a mostrar o lado humano dos atletas e o pesado treinamento ao qual eles eram submetidos, ressaltando a condição de atletas dos lutadores. A empresa começou transmitir um reality show, onde lutadores desconhecidos do grande público ficariam confinados em uma casa e se enfrentariam na busca de um contrato com o UFC, o programa se chama The Ultimate Fighter (TUF), e hoje já se encontra na sua 14ª edição nos EUA, o show inclusive esta tendo sua primeira versão brasileira, transmitido pela Rede Globo.


Abertura do TUF Brasil:
            
        Dana White é possivelmente o maior responsável pela elevação do MMA ao, como ele gosta de chamar “o esporte que mais cresce no mundo”. Pois com a instituição das regras, agora cerca de 31, e dos grandes investidores que participam do evento, o UFC serviu de veículo para a divulgação do MMA em nível internacional, transformando os lutadores em verdadeiras celebridades, tenha em vista Anderson Silva, maior nome do MMA, e reconhecidamente um atleta com pompa de superstar. 
          
Veja abaixo Anderson Silva em ação:


            As cifras não são precisas, mas estipula-se que Zuffa comprou o UFC de Meyrowitz por dois milhões de dólares, e hoje a marca vale mais de dois bilhões, sendo o evento que mais vende pay-per-view no mundo, e agora, sendo transmitido na TV aberta (algo inimaginável nos seus primórdios), tanto nos EUA quanto no Brasil, tem público de milhões de pessoas por edição.
        
        O MMA, obviamente não se resume apenas ao UFC, porém é inegável que a modalidade atingiu o nível de excelencia que tem hoje graças a organização e tino comercial do evento, levando uma multidão de fãs do esporte a cada vez mais procurarem a prática do MMA. 
              
               Escute abaixo o relato de Thiago Brito, advogado, e Leonardo Oliveira, fisioterapeuta, dois praticantes de MMA, para o Lutas-DF.
              
             


                O Brasil tem enorme prestígio na categoria, sendo considerado o maior celeiro de atletas e treinadores de MMA, contando com atletas de alto nível em todas as categorias de peso e em diferentes eventos pelo mundo. Além disso, o número de praticantes, cresce exponencialmente, variando de atletas advindos de outras categorias à pessoas que buscam a modalidade como opção de atividade física. 


Matéria especial - Parte 3

Surgimento do UFC


Dentre os filhos de Hélio Gracie, apenas, Rorion, o mais velho resolveu sair do país de imediato. Após se formar em Direito, largou o emprego de professor em uma das academias da família, onde trabalhava com o irmão Rickson, o lutador número um da família na época, e foi morar nos Estados Unidos.

Rorion Gracie
Enquanto os irmãos seguiam a doutrina Gracie, de disseminar o Jiu-Jítsu como a arte-marcial mais eficiente, através dos desafios que propunham para praticantes de outras modalidades, Rorion entendeu que apenas quando os americanos tomassem conhecimento do Jiu-Jítsu, este, como almejado pela família, seria mundialmente conhecido.

Rorion procurou diversas academias onde pudesse ministrar suas aulas porém foi negado na maioria delas, e encontrou, mais uma vez, no desafio a melhor maneira de se fazer conhecido. Ao desafiar um professor de tae kwon do e ganhar facilmente dele em frente de toda sua classe, Rorion começou a conquistar alunos para suas aulas, que futuramente passaram a acontecer na garagem de sua casa. Além das aulas particulares de Jiu-Jítsu, Rorion propunha também, na academia improvisada, desafios para quem quisesse medir forças com seu Jiu-Jítsu, chegando a oferecer 100 mil dólares para quem o derrotasse, quantia da qual ele não dispunha, tamanha era a confiança em sua técnica. Juntamente com sua academia, Rorion tinha um emprego como figurante de filmes B de Hollywood, e costumava fazer demonstrações de Jiu-Jítsu nos intervalos das gravações, o que o levou, em 1986, a convencer um produtor a lhe dar o cargo de consultor de cenas de luta no filme Maquina Mortífera, estrelado por Mel Gibson e Danny Glover.

O contato com atores e produtores lhe rendeu fama, e celebridades passaram a frequentar sua “academia de garagem”, curiosos sobre aquela nova luta que o brasileiro ensinava e se mostrava verdadeiramente eficiente.

Logomarca do primeiro UFC


Rorion, juntamente com Davie e John Millius, produtor e roteirista de cinema, pensaram nos moldes do evento e de como este deveria ser. O evento contaria com oito lutadores que se enfrentariam em eliminatórias. O ringue seria em forma de octógono, dificultando que o lutador ficasse acuado em um canto e que houvesse interferência do juiz, como ocorre no boxe. O mais importante talvez foi a definição do nome, que ficou decidido como Ultimate Fighting Championship, UFC.
            
Em 12 de novembro de 1993, com 3.500 espectadores e 86 mil pay-per-views vendidos, o UFC coroou seu primeiro grande campeão, Royce Gracie, irmão mais novo e franzino da família Gracie. O evento arrecadou mais de 1,3 milhões de dólares, tornando-se um sucesso instantâneo, sendo citado inclusive pela revista Forbes daquele ano como a estréia mais rentável de um evento televisivo de todos os tempos.

Assista abaixo a grande final da primeira edição do UFC, onde o irmão mais novo de Rorion, e lenda do MMA, Royce Gracie, se sagra campeão.


      Após a realização de eventos subsequentes, porém, o UFC enfrentou o mesmo problema de antigamente, a alta crítica devido ao nível de violência apresentado, e o MMA, como de costume, encontrou mais uma barreira para se desenvolver.


     A propaganda do evento, ressaltando a violência gratuita e os combates sanguinolentos, além de ostentar sua proibição em 49 estados americanos, atraia sim um grande público, mas não um público capaz de fazer a marca crescer e prosperar, de maneira a fazer com que o espetáculo evoluísse e desse um retorno financeiro realmente significante. As lutas perderam em nível técnico e ganharam em violência, algumas delas sendo consideradas verdadeiras brigas de ruas, com mordidas e golpes na genitália. 


Logomarca do Pride, evento que até o começo
dos anos 2000 foi o principal evento de MMA do planeta.
     Com a decaída do UFC, novos torneios foram surgindo, e ajudando no processo de disseminação do MMA, pois através deles se destacavam novos atletas da modalidade, e mais importante, as adaptações das regras, feitos em cada um, para facilitar a realização sem maiores críticas, foram vitais para a prática do esporte nos moldes como conhecemos hoje.   Os torneios realizados no Brasil, e principalmente no Japão, como o Pride e o K-1, serviram para elevar o nível dos atletas, dando pela primeira vez um caráter de profissionalismo ao esporte.


     A maneira como o UFC se reergueu, tornando-se não apenas o maior evento de MMA do planeta, mas como principal responsável pela popularização do esporte será tema da quarta e última parte de nossa matéria especial. 
 



Matéria especial - Parte 2


A retomada do MMA, ou seja, como ele regressou ao cenário mundial, tem sua origem no Brasil, e mescla-se com a própria origem de uma das maiores dinastias no universo das artes-marciais, os Gracie.

A retomada

Carlos Gracie

       Filho de Gastão e Cesalina, Carlos Gracie nasceu em 14 de setembro de 1902 em Belém do Pará, sendo o primogênito de nove filhos. O rapaz, que apesar de ser o mais velho da familia, também era o mais franzino, e desde cedo teve que aprender a se defender, e aos 15 anos, após assistir a uma apresentação pública de Jiu-Jítsu, ministrada por Misuyio Esai Maeda, conhecido no Brasil como Conde Koma, passou a se interessar pela arte-marcial. Assim que Conde Koma passou a ministrar classes de Jiu-Jítsu, o pai de Carlos utilizou de sua amizade com o mestre e conseguiu inscrever o filho nas classes, uma maneira do menino extravazar sua energia e raiva, características marcantes durante toda a infância de Carlos.  Logo que Carlos conheceu Conde Koma houve uma empatia imediata, e ele logo se tornou seu aluno preferido.  O pai de Carlos, Gastão Gracie, deu então, de maneira desapercebida, o grande empurrão para o começo do que chamamos hoje de Jiu-Jítsu Brasileiro (BJJ – Brazilian Jiu-Jitsu). 

        
      Devido a algumas ingerências de seu pai nos negócios e a morte de seu avô, Carlos Gracie se viu obrigado a se mudar para o Rio de Janeiro, cidade onde encontrou solo fértil para o desenvolvimento e disseminação do Jiu-Jítsu aprendido com Conde Koma. Carlos porém não se prendeu apenas ao aprendido pelo seu mestre, ele fez uma série de adaptações aos movimentos que permitiram que uma pessoa de seu porte físico, pequeno e magro, pudesse se equiparar com adversários mais fortes e pesados, técnicas essas que foram o carro-chefe do Jiu-Jítsu praticado pelos Gracie.
           
Conde Koma (de bigode) em uma de suas demonstrações de Jiu-Jítsu
         Após uma breve temporada treinando a força policial de Belo Horizonte, convite feito por uma amigo de Carlos, Donato Pires, que tinha treinado com o Conde Koma juntamente com ele, Carlos se sentiu seguro para ministrar aulas de jiu-jítsu e resolveu tomar essa atividade como profissão.  Para realizar este sonho, porém, Carlos necessitaria contar com mais professores, o que fez com que incluísse seus irmão nesse projeto de vida, entre eles estavam George, conhecido como “Gato Ruivo”, e Hélio Gracie, talvez o maior nome do jiu-jítsu brasileiro de todos os tempos. É justamente no mesmo período que Carlos começa a fazer os seus famosos desafios públicos de lutas, no intuito de provar a eficácia da arte que defendia.


          Carlos e os irmãos estavam dispostos a enfrentar qualquer lutador, indiferente do peso, tamanho ou técnica de luta, e o êxito na maioria dos desafios consagrou os Gracie como uma família de guerreiros a serem batidos.

Estes combates, onde diferentes artes-marciais se confrontavam, no objetivo de definir qual era a mais eficiente, eram chamados de Vale-Tudo, pois como diz o nome, valia qualquer tipo de golpe, com a exceção de mordidas. O Vale-Tudo é o precursor do MMA,e tem papel vital na maneira como este é se desenvolveu para o que é hoje em dia.  




Matéria especial - Parte 1

     Nessa matéria especial, o blog Lutas-DF mostrará o surgimento e evolução do MMA. Dividida em quatro partes, a matéria abordará o surgimento, a retomada do MMA, o surgimento do UFC e a evolução da modalidade no que ela se transformou nos dias de hoje. 
Nessa primeira parte abordaremos os primórdios das artes marciais mistas.


Origem do MMA

O termo MMA, sigla para Mixed Martial Arts, que significa Artes Marciais Mistas, representa não apenas um tipo de luta, mas todo ou qualquer tipo de arte-marcial que quando mescladas criam um estilo de luta. Exemplos de lutas que podem fazer parte desse vasto leque de opções são o Jiu-Jítsu, Luta livre, Boxe, Caratê, Judô, Muay thai, Taekwondo, Kung-Fu, Wrestling, dentre outras.  

Os primeiros relatos de uma luta que utilizasse tanto elementos da luta de pé, como socos e chutes, e mesclasse-os com elementos da luta de solo, como chaves nas articulações e estrangulamentos, foi o Pancrácio, que teve sua primeira aparição nos 33° Jogos Olímpicos da Antiguidade, em 648 a.C. na Grécia. O Pancrácio era a base do treinamento dos soldados gregos, e sua etimologia, advém do termo grego “pancratium”, que significa “cerco total” ou “poderes totais”. A prática do Pancrácio como luta consistia em disputas entre dois oponentes onde a vitoria seria declarada quando um destes sinalizasse a derrota, através da desistência (batendo no ombro ou levantando a mão), ferimento que impossibilitasse o prosseguimento do combate ou morte. Nas disputas não era válido morder, arranhar e arrancar o olho, todo o resto, no entanto, era permitido.

As lutas de Pancrácio, com o tempo, se tornaram ilegais. Os conservadores da época agregavam sua prática à violência, e a consideravam uma má influência para os jovens, porém sua prática continuou a ser uma constante, principalmente no submundo de Atenas, onde era considerada como entretenimento e diversão para os ricos apostadores da cidade.

A evolução das artes-marciais seguiu seu rumo na Grécia antiga, e o Pancrácio serviu de base para diversas outras lutas, inclusive para o Wrestling, arte marcial que deu ênfase apenas para os elementos de solo do Pancrácio, e que existe até os dias de hoje, e se tornou popular com Platão. Platão, inclusive, era o apelido de Aristóteles, que ele ganhou nos círculos de Wrestling devido ao seu porte físico avantajado. Platão em grego significa “amplo”.

A mente na época não era dissociada do corpo, os grandes filósofos e intelectuais da época eram praticantes do Wrestling, a academia de Platão era uma famosa escola da arte marcial, e serviu de modelo para subsequentes escolas superiores europeias.

A disseminação do Wrestling, juntamente com o surgimento e popularização do boxe, fizeram com que a mescla de estilos perdesse a popularidade, dando espaço a essas novas técnicas de luta, cada vez mais crescentes no ocidente. 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A vez delas


A febre do MMA (mixed martial arts) já se consolidou, tanto no Brasil quanto internacionalmente, e conquista cada vez mais adeptos. Lutadores provenientes de outras artes marciais, fãs do esporte e pessoas que apenas procuram uma atividade física diferente buscam as academias, que cada vez mais se adéquam para atender esse novo público.


Parte desse novo público, na verdade uma boa parte, é formada pelo sexo feminino. Mulheres que agora participam do universo do MMA no âmbito profissional ou que procuram a modalidade devido à grande popularidade.


O MMA feminino, praticado de maneira profissional, já conta com campeonatos bem organizados e já forma um corpo de lutadoras que é reconhecido dentre os praticantes do esporte. O Strikeforce e o Bellator são os principais torneios que têm a categoria específica para mulheres, e dentro destes torneios destacam-se lutadoras como:


Ronda Rosey – ex-judoca de nível olímpico, obtendo medalhas de ouro nas olimpíadas juvenis de 2004 e o bronze nos jogos olímpicos de Pequim em 2008, é o maior nome do esporte. É campeã da sua categoria no strikeforce, além de desfrutar do título de musa do MMA.



Cris Cyborg – Brasileira, considerada a lutadora mais completa do MMA feminino. Era invicta e tinha três defesas bem-sucedidas de cinturão, até que em janeiro deste ano foi pega no teste antidoping e recebeu uma suspensão de um ano.



Apesar de brasileiras participarem de torneios internacionais, no Brasil elas ainda não são reconhecidas pelo esporte, onde talvez o maior nome nacional seja o de Ana Maria Gomes Soares, popularmente conhecida como “Índia”, que ganhou fama devido a sua participação no reality show “No Limite”.


A procura pela atividade do MMA como forma de atividade física também vem crescendo entre o público feminino, que cada vez mais procura nas academias aulas específicas da modalidade. O Professor de Educação Física Henrique Castilho, instrutor de uma famosa rede de academias do DF, em entrevista ao Lutas-DF, disse que muitas alunas o procuram, buscando saber sobre a abertura de aulas de MMA. “Essa febre do UFC tá entre as meninas agora, todas elas perguntando sobre aulas de MMA e se elas são boas para perder peso e ganhar condicionamento”, disse Henrique.


Marina Villas Boas, aluna de MMA, concedeu uma entrevista para o Lutas –DF, e falou um pouco sobre sua experiência com o esporte e como começou a praticá-lo.



Apesar de ser considerado um esporte de alto teor de violência, o público em geral já começa a enxergar a legitimidade das competições e treinamentos, o que ajuda na popularização do esporte, independentemente do sexo de seus praticantes.